terça-feira, 20 de abril de 2010

Ausência de efeito genotóxico induzido por esteróides anabolizantes em indivíduos fisiculturistas

Resumo

Os esteróides anabolizantes vêm sendo utilizados indiscriminadamente com a finalidade de aumentar a massa muscular e melhorar o desempenho em competições esportivas. No entanto, os efeitos desses esteróides sobre a saúde humana foram pouco avaliados. O presente estudo propôs verificar o potencial genotóxico de esteróides anabolizantes em indivíduos fisiculturistas utilizando o teste do cometa, capaz de detectar lesões primárias no DNA. Para isso, foram coletadas amostras de sangue periférico de 63 voluntários, sendo 23 praticantes do fisiculturismo não competitivo e usuários de esteróides anabolizantes; 20 fisiculturistas não usuários dos esteróides e 20 indivíduos sedentários, que não praticavam exercício físico rotineiro (grupo controle). Nos protocolos de tratamento utilizados pelos usuários de esteróides estavam inclusos: o stanozolol, o decanoato de nandrolona, o cipionato de testosterona e a oximetolona. Os resultados mostraram que não houve diferença estatisticamente significante (P > 0,05) nos níveis de danos no DNA (“tail moment”) entre os grupos avaliados. Desta forma, conclui-se que o treinamento físico de força muscular, bem como o uso de esteróides anabolizantes durante o treinamento físico não induziram aumento de danos no DNA de leucócitos do sangue periférico.

UNITERMOS: Esteróides anabolizantes; Exercícios anaeróbios; Genotoxicidade; Teste do cometa.



Nas últimas décadas, o treinamento de força vem ganhando destaque como parte integrante da prescrição de exercícios visando a saúde. Esse aumento de interesse ocorreu especialmente após o American College of Sports Medicine (ACSM) ter ressaltado os benefícios desse tipo de treinamento e de suas formas de aplicação em relação à freqüência semanal, número de séries, intervalo entre as séries, número de repetições e número de exercícios (SIMÕES, 2003). O treinamento de força foi sempre associado ao aumento de massa muscular, sendo um meio para atingir uma hipertrofia adequada, no caso do fisiculturismo, e para o aumento de força máxima e potência muscular, importante para muitos esportes (UCHIDA, CHARRO, BACURAU, NAVARRO & PONTES JÚNIOR, 2003).

O fisiculturismo, que consiste na prática regular de exercícios anaeróbios de força para a modelagem e definição muscular, vem crescendo bastante como esporte. No entanto, com o objetivo de aumentar o processo anabólico celular, o crescimento muscular e a subseqüente melhoria no desempenho físico em curtos intervalos de tempo, alguns praticantes tanto de exercícios físicos anaeróbios como aeróbios vêm fazendo uso indiscriminado de esteróides anabolizantes (KICMAN & GOWER, 2003).

Os esteróides anabolizantes são derivados do hormônio sexual masculino testosterona, secretada pelos testículos (FARRELL & MCGINNIS, 2003; YESALIS & BAHRKE, 2002) e responsável pelas características físicas masculinas (FARRELL & MCGINNIS, 2003). Dentre os efeitos deletérios que podem ser causados pelos anabolizantes sintéticos estão agressividade (BRONSON, 1996; FARRELL & MCGINNIS, 2003), atrofia testicular, ginecomastia, alterações na próstata e vesícula seminal, alterações no ciclo menstrual, alterações no crescimento, cistos hepáticos, hepatoma (BROEDER, 2003; BRONSON, 1996; COUNCIL ON SCIENTIFIC AFFAIRS, 1990; YEASALIS & BAHRKE, 2002) e alterações cardiovasculares (SCHARHAG, URHAUSEN & KINDERMANN, 2003; SULLIVAN, MARTINEZ & GALLACHERM 1999).

O teste do cometa é um ensaio simples, rápido, sensível e de baixo custo quando comparado a outros testes para detecção de danos genéticos. Esta técnica consiste na imersão de células viáveis em gel de agarose, lise da membrana celular por detergentes e sais alcalinos, e posterior eletroforese (SINGH, MCCOY, TICE & SCHNEIDER, 1988). Sob condições alcalinas de eletroforese, as células com danos no DNA apresentam maior taxa de migração da molécula em direção ao ânodo devido a quebras de fita simples ou dupla e sítios lábeis alcalinos (OLIVE, BANATH & DURAND, 1990), simulando a aparência de um cometa (cabeça e cauda). Embora alguns estudos tivessem mostrado um aumento de danos no DNA em indivíduos praticantes de exercícios físicos aeróbicos (HARTMANN, PLAPPERT, RADDATZ, GRUNERT-FUCHS & SPEIT 1994; MASTALOUDIS, YU, O’DONNELL, FREI, DASHWOOD & TRABER, 2004), não há, até o momento, trabalhos que demonstrem a freqüência de danos primários no DNA em células do sangue periférico de atletas que realizam treinamento físico de força muscular, tampouco de atletas usuários de esteróides anabolizantes.

Com base no exposto, este estudo utilizou o teste do cometa para avaliar o potencial genotóxico de esteróides anabolizantes em indivíduos praticantes de musculação e fisiculturismo.

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